Recife


Quando que eu imaginaria morar numa cidade tão barulhenta? Nunca. Na verdade, eu nunca tinha parado para perceber o quão silenciosa Brasília é até eu vir morar em Recife. Cidade que ferve, né?

Buzinas aqui são de várias intensidades e até ritmos. Têm as buzinas para agradecer umas gentilezas (beeem raras por sinal) que geralmente são dois toques rápidos, seguidos e leves. Já as buzinas para chamar atenção dos barbeiros (ao contrário das gentilezas, são nada raros aqui) variam entre um ou dois toques mais intensos e mais longos a depender do grau de barbeiragem do outro. Também tem as buzinas dos motoristas impacientes que não esperam nem 1 segundo de sinal aberto e já te mandam arrancar com uns toques apressados no volante. Esses mesmos motoristas, na hora daquele pico de trânsito, acham que são Moisés e com aquele barulho infernal, alto e constante irão fazer o mar de carros se abrir para que possam passar. E, por último, mas não menos importante para dinâmica sonora da cidade, tem a famosa buzina dos cruzamentos. Essas não têm hora para acontecer, mas particularmente me divirto com algumas delas: variam entre vários toquinhos apenas para sinalizar que tem um veículo vindo ali até as que intonam o hino das torcidas de futebol (mais frequentes após o time ser vitorioso em algum jogo) .

Buzinar e ouvir tanta sinfonia de buzinas para mim é algo novo. Me peguei outro dia me questionando como pode a dinâmica urbanística interferir tanto no perfil dos motoristas da cidade? A cidade provoca esse frenesi todo com suas ruas estreitas, desniveladas e cheias de sinais dessincronizados, com seus cruzamentos cheios de pontos cegos e com seus prédios altos, esbeltos e colados fazendo o som da rua lá embaixo reverberar céu acima.

Demorei a ignorá-las durante boa parte do meu dia. Hoje eu aprendi a conviver com essa sinfonia dramática, intensa e até estressante. E valorizo muito mais Brasília com suas ruas largas, retas e contínuas, suas tesourinhas mágicas, seus prédios baixos e afastados. Seus motoristas podem até serem iguais ou menos pacientes que os daqui, mas pelo menos sabem que aquele barulho constante não irá fazer milagre.

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