Tempo e processo


Há bem uns 10 anos atrás uma amiga, que hoje é uma das mulheres mais incríveis que conheço, despertou em mim algo que no fundo eu já sabia que me preenchia de certa forma. A combinação de palavras que ela usava e toda sua delicadeza, sensibilidade e intensidade me fascinavam. Me emocionavam. A poesia, a prosa, a minuciosa descrição dos acontecimentos com pitadas de versos poéticos. Ela talvez nem saiba que me ajudou a despertar e a entrar em contato com todo esse sentimento que me toca e me transforma.

Escrever sempre foi uma das minhas melhores maneiras de expressão. Escrever, para mim, é conseguir juntar o som, a imagem e os cheiros na narração dos sentimentos que se transformam em palavras no papel. Escrever é entrar em conexão com todos os sentidos que são transformados em cada letra, pontuação, pausa e enfim dando origem ao texto.

Já escrevi cartas de amor, declarações, sensações. Já escrevi o sonhado e o vivido. Usei e abusei de metáforas. Já escrevi de coração partido, de coração preenchido e transbordando. Já escrevi com saudades do que foi e nunca mais seria. Saudades de quem foi e nunca mais voltaria. Já escrevi por terapia, para acalmar sentimentos, pensamentos e sensações. Já escrevi em momentos muito turvos, quentes, abrasivos e obscuros em que minhas palavras eram minha única voz. Escrevi, escrevi, escrevi. Mas houve tempos que silenciei. E tempos que tentei recomeçar. Dizia a mim mesma que dessa vez ia. Voltaria, me reconectaria. Mas não consegui. Algo havia desconectado e eu não conseguia entender o porquê.

Fato é que a vida é muito mais imprevisível e complexa do que possamos imaginar. E por mais que escrever tenha me acompanhado em momentos muito felizes e outros difíceis, por mais que escrever tenha sido meu auxílio e ponto de conexão, o silêncio das palavras dizia muito sobre mim também. Mas eu não compreendia.

Me frustrei muitas vezes indo atrás da combinação certa. De me conectar com aquilo que eu sentia e de não conseguir traduzir os sentimentos. Foi então que percebi que na verdade não era das letras que eu estava atrás. Vi que estive em busca de mim mesma todo esse tempo ausente. Do que quero, onde é que eu faço parte. Quem sou.

Se reconectar com minha essência é e está sendo um caminho delicioso e difícil. Estar consciente do meu eu, é muito mais desafiador do que possa soar. Mas é lindo. É gratificante. É estar inteira, ou na verdade, colocando cada peça minha em seu devido lugar. Afinal, inteiros todos somos, só porventura esquecemos disso as vezes.

Não sei como será essa nova fase, essa nova vontade. Não sei como será esse despertar e reconexão. Mas sei que há um bom tempo muitas palavras martelam no meu coração. Vibram e ressoam querendo vida. Eu quero vida! E me sinto muito colorida ao querer que elas desçam e pintem esses papeis.

Me sinto voltando. Voando. Pulsando. Tudo em seu tempo e processo. Vibrando feliz.

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