Os sapatos


Meia fina nas pernas da menina,
Corpo de mulher.
Olhos que parecem enxergar além da alma, têm vida própria e habitam um só corpo.

Há poesia no som que sai de uma boca ao cantar uma música.
Há poesia nas palavras que se unem para formar uma singela declaração de amor.
Poesia no vestido da menina;
Na meia fina, nas pernas.
Poesia no choro da criança e na intensidade em que o maestro rege a orquestra.
Há poesia no perfume de alguém conhecido,
Nas lembranças.

No canto do quarto sapatos sujos, marcados por longas caminhadas.
Marcados pelo suor e pelas fissuras dos altos e baixos enfrentados.
Sujos dos caminhos trilhados.

As crianças gritam lá fora.
Dentro do meu quarto encontro um mundo.
O meu mundo.
Seguro, escuro, quente e único.

Tenho a ligeira sensação de conter todos meus pensamentos entre quatro paredes.
Minhas emoções estão presas entre quatro paredes.
Minhas palavras entre quatro paredes,
Minha voz...
EU.

O cabelo preso não esconde mais meu colo quase nu.
Me enxergo.
Sinto algo quente escorrendo meu rosto abaixo.
Não consigo ver o que é,
Vontade que tenho é de fechar os olhos para sempre.

Vejo os sapatos.
Penso no quanto eles devem ter andando pra chegar ali.
Imagino os caminhos trilhados para estarem tão sujos.
Caminhos difíceis?
Talvez.

Mas percebo que não há nada que os impeça de serem limpos. De serem renovados.
Assim eles poderão trilhar novamente outros caminhos, mais difíceis até.
Mais intensos e mais sujos.

Comentários

  1. Rafa,minha flor,
    Adorei!!!Você se supera a cada texto que escreve,toca nossa alma e nos convida a mergulhar no seu mundo...muitas vezes habitado só por vc.
    Aceitei este convite desde o primeiro momento!Quero fazer parte de sua vida sempre!
    Não desperdice este "dom"...
    Beijo da sua tia que muito lhe ama.
    Núbia.

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  2. "Mas percebo que não há nada que os impeça de serem limpos."
    curti. (:

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  3. Por que vc não escreve poesia? Essa crônica inteira está com os períodos ritmados e com paralelismo típico de poema, mas errado em prosa;no primeiro parágrafo "corpo de mulher" não está concordando com ninguém ( corpo no caso se ligaria ao verbo haver elipsado, o que quebraria a coerência )e ,no segundo, as elipses entre períodos ficam confusas ( no caso do verbo haver e "poesia" ). Ao longo do texto , esses traços estilísticos se repetem.Se vc reescrevesse-a em poesia, tudo isso se adaptaria, exceto as pernas da menina, que precisam de meias finas e dos olhos, que tÊm vida.

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  4. João Guilherme Lima Candido9 de setembro de 2010 às 22:44

    Estou verdadeiramente impressionado... Não sabia que aqueles cabelos pretos da primeira carteira, que povoavam os sonhos de um tal Fratezzi, tivesse um tão belo dom! Hehehe Continue assim Rafa!

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  5. não sabia desse seu dom. hahahaha

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  6. filha,

    adorei seu texto! mergulhei nele e consegui visualizar exatamente o seu momento. ( adorei a parte ...as crianças gritam lá fora... e mesmo assim, conseguiu se concentrar e produzir esse lindo texto... caramba!! Você é muito boa nisso, viu? um beijo filha, continue fazendo o que a faz feliz!
    mami

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