caneta, papel e algumas palavras

Quarenta minutos, uma caneta e um papel na mão. Esse foi o tempo que passara a noite anterior com vontade de escrever, mas as palavras simplesmente não queriam correr pelos seus pulsos fazendo a tinta escorrer entre as linhas do caderno. Seu coração estava atormentado; não sabia o motivo. Queria ouvir alguma voz que dentro daquele momento, seria amigável e reconfortante mas talvez pelo descompasso de seu coração, achou melhor não procurá-la. Bastou apenas um segundo, depois de vários passados, para descobrir o motivo de sua angústia. Bastaram-lhe palavras. Uma única palavra na verdade, pra mostrar-lhe que as coisas deveriam ter um ponto final bem ali. Justamente ali. Um ponto, um final... uma lágrima, depois outra, e mais outra e muitas outras. Várias. Olhou-se no espelho e se perguntou aonde estaria aquela felicidade que sempre a preenchia. Seu rosto estava estampado por algum sentimento que se confundia com outros, se confundia com os olhos. Se confundia com o cabelo. Se confundia com a boca, com o seu perfume. Preferiu fechar os olhos. Sonhar com algo que pudesse fazer esquecer seus problemas atuais. 

Sonhou sonhos perturbados, sonhos fortes, sonhos intensos, sonhos sem sonhos. Acordou, abriu a janela. Viu o sol, sentiu o ar seco e o vento frio da manhã do mês de Agosto. Suspirou. Olhou-se no espelho mais uma vez. Reparou em seus olhos inchados das lágrimas que escorreram dele na noite anterior. Sorriu e chegou a mais simples conclusão de todas: era ali, naquela exata manhã, que ela começaria um novo caminho. Um caminho seu. O passado é passado, pensou. É agora que começaria a trilhar o seu futuro, o seu futuro próximo. Desejado. Aqueles outros que um dia pensaram em correrem por ali estão agora em outros lugares, com outros desejos, com outra mulher, aquela que ficou no dia anterior com as lágrimas no rosto. Um mulher que talvez fosse mais menina. O seu novo caminho começaria com uma nova mulher. Mais forte e mais segura. Talvez apenas mais mulher.